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Conto, com a Reitora

Um respiro para pensar!

Um semestre agitado chega ao fim. Parabéns aos que passaram nos exames, aos que terminaram o curso. Aos professores, bom descanso e aos funcionários, nosso muito obrigado. Enquanto para professores e estudantes, é hora de descanso, de repouso, de descanso das atividades acadêmicas, nossos funcionários se programam para receber aqueles que ingressam em nossa instituição ou retornam a ela no próximo semestre.

Sei que já falei sobre isso aqui neste espaço, mas vou me repetir. Não deixem de estudar, de dar uma repassada nas matérias, de ler sobre assuntos que possam enriquecer o conteúdo de sala de aula. Mas, independentemente das leituras acadêmicas, que, como disse, não devem ser postas de lado, vale a pena se inteirar sobre os acontecimentos que estão em pauta nos cenários mundial e nacional. Isso também faz parte da cultura, da formação.
Vou citar alguns temas que merecem um olhar mais atento e dos quais podemos tirar lições para a vida, para o momento em que passa também nosso país. No âmbito externo, temos a crise na Grécia, evidenciando uma vez mais as fragilidades do modelo neoliberal, mostrando as dificuldades oriundas de um sistema econômico que trabalha com o capital volátil e cujos interesses têm colocado em risco as economias locais.

A Grécia, por questões internas e externas, entrou em colapso. O país não conseguiu conduzir a contento a política econômica no que diz respeito a controles de gastos, e maquiou contas para conseguir subsídios do exterior. A falta de transparência arranhou sua credibilidade. Os investimentos que poderiam ter sido feitos no país acabaram não acontecendo. Ninguém aposta no escuro.

A situação grega preocupa porque estamos falando de um país desenvolvido. Aliás, é a primeira vez que se está tocando em um país de um bloco econômico forte e isso pode ter um efeito dominó, atingir outras economias igualmente fragilizadas, como as de Portugal, Espanha, Irlanda e Itália. O que está acontecendo na Europa denota também uma necessidade de repensar a maneira como está sendo conduzida nossa política interna. 

Então, prestem atenção ao que está acontecendo aqui, especialmente ao que vem sendo debatido e decidido em Brasília e que tem grande repercussão na nossa vida, no nosso futuro. Saímos de uma turbulência de escândalos de corrupção na Petrobrás, e que agora vão se multiplicando, se desdobrando em outros setores. Mas já falei muito de política aqui. Prefiro que atentem para o que significa a recém-aprovada redução da maioridade penal, uma questão que coloca em xeque todo o nosso processo formativo. 

É hora de pararmos para pensar que perspectivas estamos dando para os nossos jovens, como estão se preparando para o amanhã? Os jovens de 16 anos hoje estavam com três/quatro anos quando o atual governo entrou no poder. Muito se fez pelo ensino superior, mas pouco ou quase nada foi feito para atender às necessidades do ensino fundamental. No Estado de São Paulo, a calamidade é maior. O país trata muito mal seus educadores. Vivemos um verdadeiro colapso neste nível da educação, o que certamente comprometerá o futuro da nação nas próximas décadas.  A entrada de crianças e adolescentes no mundo do crime tem aumentado, sobretudo por meio do tráfico de drogas. Em 2012, o número de menores apreendidos foi mais de duas vezes superior ao de prisões de adultos, segundo levantamento do Globo a partir de dados oficiais dos governos de oito Estados. Em 2012, o número de apreensões de crianças e adolescentes por crimes como vandalismo, desacato, tráfico, lesão corporal, furto, roubo e homicídio cresceu 14,3% sobre o ano anterior, contra 5,8% no número de jovens e adultos presos por crimes em geral. 

Esses números nos obrigam a questionar a atual política de governo, especialmente para a educação, para as camadas mais pobres. Com o que temos, o futuro tende a ser a criminalidade, a delinquência. A discussão sobre como conter a violência entra em um embate. Sou favorável a que sejam revistos alguns pontos do Estatuto da Criança e do Adolescente, de forma que atos cometidos por menores não caiam na impunidade, mas que também não se caia na lógica punitiva tão somente. Punir cada vez mais cedo, descendo a faixa etária mais e mais, não resolve o problema da violência. Precisamos trabalhar a curto e a médio prazo se quisermos um futuro melhor para jovens e crianças. Digo e repito: a diminuição da maioridade penal precisa ser pensada com critérios, não somente na dimensão punitiva, mas na dimensão educativa.

Minha sugestão é que aproveitem o período de repouso para se inteirar dos fatos que repercutem em nossa vida. Leiam mais, corram atrás, estudem soluções, sem paixão, sem demagogia ou ideologias que já se mostraram contraproducentes, ineficazes. Comecem a pensar não apenas como cidadãos, hoje, agora, mas no âmbito de futuro, de horizonte profissional; como vão poder atuar em suas áreas para ajudar a reverter esse quadro de violência e de insatisfação? Estas são questões para serem levadas para fora da sala de aula, para o almoço em famílias, para as rodas de amigos, para as mídias sociais. Mas não transformem assuntos tão sérios em conversa de bar, irresponsável e inconsequente.  

Aproveitem as férias para se reposicionar em relação a tudo isso que desafia nossa sociedade hoje. Às vezes nos afundamos no trabalho, no estudo, de segunda a segunda, e nos esquecemos do respiro para pensar para onde tudo isso vai nos levar. Este é o momento de redirecionar os objetivos, os sonhos, os horizontes – seus e de nosso País.


Boas férias. 

Reitor Prof. Dr. Pe Edelcio Ottaviani

São Paulo, 01/07/2015

Imagem de uma mulher branca, cabelos lisos, sorrindo com um fundo claro

Profª. Drª. Karen Ambra

Reitora do Centro Universitário Assunção