Conto, com a Reitora
A esperança como último exercício em 2014!
Esperança. Escolhi esta palavra para meu último encontro com vocês, primeiro, porque estamos no início do Advento. Para nós, cristãos, é tempo de esperança, um tempo de expectativa da chegada do Messias. Luz para as nações, como diz o profeta Isaías, e lâmpada para nossos caminhos, segundo o evangelista João, a coroa do advento, com suas quatro velas, aponta para a manjedoura onde repousa o menino Deus. A essa luz radiante, acorrerão também os Reis magos, reconhecendo em Jesus o modelo de governante cujos atos são exemplares para os chefes de todas as nações. É a releitura, feita por Lucas e Mateus, dos passos da Rainha de Sabá em direção à sabedoria de Salomão.
Em segundo lugar, falo de Esperança porque, mais do que nunca, "na história deste país", ela foi tão necessária. Esperança de que sejam mudados os rumos de governança em todos os níveis deste nosso Brasil. O ano de 2014 finda de maneira totalmente contrária à maneira como o recebemos na noite de 31 de dezembro de 2013. Naquela virada, por “n” motivos, estávamos cheios das melhores expectativas diante do período de doze meses que se anunciava.
Teríamos dois eventos de repercussão planetária: a Copa do Mundo de Futebol, quando receberíamos gente de todas as partes e ansiávamos por fazer jus à fama de povo hospitaleiro, alegre, comunicativo e de País do Futebol. Um fiasco da seleção canarinho estava fora de cogitação. Nada poderia dar errado, a despeito das manifestações antes e durante os jogos contra os desvios de verbas nas obras da infraestrutura necessária a um evento de tal magnitude. Afora alguns pessimistas de plantão (eles estão em toda a parte), tínhamos certeza de que o amor pelo futebol superaria qualquer dificuldade. Teríamos certamente uma atuação impecável da seleção de Felipão.
Em seguida, teríamos a chance de conferir novos rumos ao País ao elegermos nossos representantes para o posto máximo e para os cargos do Congresso Nacional e estaduais. Nos dois eventos, ficamos a dever e deixamos expostas nossas enormes fragilidades. Em ambas, falaram mais alto os escândalos, as denúncias de corrupção para aparelhamento da política e manutenção do poder de determinados partidos.
Somado à lamentável atuação dos jogadores brasileiros, o baixo nível deu o tom nos discursos de campanha política, marcados também por propostas mal elaboradas, dados maquiados, forjados ou mesmo escondidos. No futebol a mudança se fez imediata. Coube a Dunga amenizar a péssima impressão dos 7 a 1 para a Alemanha. No âmbito político, optamos pela continuidade tanto no âmbito federal, quanto no estadual, no caso de São Paulo.
Terminamos 2014 sabedores de que há estádios inacabados que seriam para a Copa, e terminamos ainda mais cientes do que acontece com nossos impostos nas negociatas do poder: o escândalo da Petrobras já é considerado o maior escândalo da sociedade contemporânea.
Ou seja, o que mais chama a atenção nos últimos meses é uma prática que parece normatizada, oficializada em nosso País. Os orçamentos são sempre superfaturados, as licitações são sempre forjadas de maneira a que alguns se beneficiem e tirem do tesouro público uma riqueza que, além de onerar a classe trabalhadora e o setor produtivo que sustentam o país, ainda prejudica aqueles que realmente precisam ser assistidos pelos programas sociais e os serviços públicos necessários à população.
Não bastasse, encerramos o ano com a maior seca da história, fruto do descaso com o ambiente pelo desmatamento da Amazônia, desperdício dos recursos naturais e falta de planejamento para com as bacias hidrográficas que seriam capazes de suprir a aglomeração desordenada e crescente dos grandes centros urbanos.
Diante de tudo isso, não precisa ser expert em economia e política para vislumbrar um 2015 delicado para todos os brasileiros... Então, o que temos a comemorar em nossas Festas de Fim de Ano? Como disse, advento está ligado ao que há de vir, ao futuro. Logo depois do Natal celebramos a Epifania do Senhor. Os três Reis Magos nos lembram que um Reino de Paz e de justiça só será possível quando cada um tomar para si as atitudes exemplares de Jesus.
O livro de Jonas nos lembra que os governantes de Nínive, capital da Assíria, só se converteram depois da conversão de seus habitantes. A sociedade brasileira está doente e somente a mudança de conduta de cada um de nós tornará possível a reversão dessa situação. "Conversão" é a medicação adequada a esse mal maior. É o que diz o profeta Isaías: preparai os caminhos do Senhor, aplainai suas montanhas e endireitai suas veredas!
Tanto o advento quanto a Epifania nos apontam para o modo de ser de Jesus, que é o contraponto de tudo o que estamos vendo, um modo de ser que não se utiliza do poder em benefício próprio. Todo poder adquirido é para o serviço. É um modelo de ser que não se deixa fascinar pelas promessas do mercado e pelo status que confere. Nessa sociedade que avalia o outro pelo que aparenta ser, a ordem é fazer o que for preciso para alcançar esse fim, não importa se pelo desvio ou pela propina, se pela conivência ou pela omissão.
O Brasil chegou ao fundo de poço. Agora pergunto àqueles que ocupam cargos importantes e a vocês, alunos, em formação universitária, que ocuparão com maior competência alguns cargos importantes: É esse o Brasil que queremos? Vamos ser coniventes ou faremos a diferença? O UNIFAI teve como slogan de campanhas “O UNIFAI faz a diferença!” Nossa instituição não vai desistir de apostar em valores que podem fazer a diferença em nossa sociedade, valores que passam elo modo de ser de nossos funcionários e professores, inspirados pelo modo de ser de Jesus. É esse modo de ser que marca o caráter confessional de nossa instituição.
Que o Espírito Santo, que animou as ações de Jesus, anime também nossos passos neste 2015 para que seja um ano de realizações e não somente de intenções!
São Paulo, 25/12/2014
Profª. Drª. Karen Ambra
Reitora do Centro Universitário Assunção