Conto, com a Reitora
A família como a primeira escola de comunicação
Domingo, 17 de maio, comemoramos o Dia Mundial das Comunicações Sociais, sob o tema “Comunicar a família: ambiente privilegiado do encontro na gratuidade do amor”. Apesar de sempre atual, o tema é mais que oportuno diante de tudo o que temos visto em nossa sociedade dita moderna. Nas palavras do Papa Francisco, precisamos ver a família a partir de um novo ponto de vista, o ponto de vista da comunicação: “Aliás, a família é o primeiro lugar onde aprendemos a comunicar.”, disse, ao explicar o motivo da escolha da família como ponto de reflexão nesse Dia Mundial.
Aproveito a mensagem do Papa para algumas pontuações que ajudem nesse pensar. Vale lembrar que existe um paralelo entre o apelo de Francisco por uma “cultura do encontro”, levada à reflexão em 2014, e o tema agora proposto. A mensagem de agora nos lembra das palavras do Evangelho no diálogo de Maria com Isabel: “Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Então, erguendo a voz, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”» (vv. 41-42).
“Com efeito (continua Francisco), a primeira resposta à saudação de Maria é dada pelo menino, que salta de alegria no ventre de Isabel. Exultar pela alegria do encontro é, em certo sentido, o arquétipo e o símbolo de qualquer outra comunicação, que aprendemos ainda antes de chegar ao mundo. O ventre que nos abriga é a primeira «escola» de comunicação, feita de escuta e contato corporal, onde começamos a familiarizar-nos com o mundo exterior num ambiente protegido e ao som tranquilizador do pulsar do coração da mãe. Este encontro entre dois seres simultaneamente tão íntimos e ainda tão alheios um ao outro, um encontro cheio de promessas, é a nossa primeira experiência de comunicação. E é uma experiência que nos irmana a todos, pois cada um de nós nasceu de uma mãe.”
Agora, voltando à minha reflexão: quantos de vocês se reúnem para a refeição em família? A vida é corrida, muitos são os compromissos, sei bem disso, mas de que maneira temos praticado essa cultura do encontro no seio familiar? A mensagem do Papa para este ano fala da família como “Uma comunidade que sabe acompanhar, festejar e frutificar”. É assim em nossa casa, com nossos pais, filhos, irmãos? Outro dia me assustei ao ler que membros de uma mesma família se reúnem pelo WhatsApp, formam grupos para “discutir problemas”, partilhar ideias, se “encontrar”!
Bem, nada contra a tecnologia, longe disso. Mas reafirmo: uma verdadeira cultura do encontro enriquecida pelas tecnologias digitais e as redes sociais só vai se estabelecer quando nos fizermos próximos de verdade, quando protagonizarmos encontros reais, próximos de uma vida de carne e osso, de corpo e alma. Como o menino que exultou no seio de Isabel quando ouviu as palavras de Maria, somente a convivência corporal, o encontro real nos fará “sentir o outro”, “sentir com o outro”, “exultar com o outro”.
Francisco prossegue: “Na família, é sobretudo a capacidade de se abraçar, apoiar, acompanhar, decifrar olhares e silêncios, rir e chorar juntos, entre pessoas que não se escolheram e todavia são tão importantes uma para a outra… é sobretudo esta capacidade que nos faz compreender o que é verdadeiramente a comunicação enquanto descoberta e construção de proximidade.”
Porém, nada disso fará sentido se as relações familiares não forem permeadas por sentimentos de amizade. Sem ela, denominada pelos gregos philia, as estruturas familiares podem incorrer em mecanismos de dominação e enfrentamentos, dando margem a traumas e ressentimentos. Jesus sabia bem disso e por isso quis fazer da sua comunidade de vida uma família baseada em vínculos de amizade: “Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos?”, e apontando para seus discípulos disse: “Eis aqui minha mãe e meus irmãos, por que qualquer um que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, e irmã e mãe” (Mt 12, 48-50). E num movimento circular acrescenta: “já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo de amigos”.
Este é o sentido mais amplo que Jesus atribui à família: ir além dos laços de sangue e estabelecer um espaço em que se partilham abraços, alegrias, angústias, expectativas, tristezas, preocupações, não como peso, dever, obrigação, mas como uma opção pessoal que nos enche de alegria e nos dá identidade.
Reitor Prof. Dr. Pe Edelcio Ottaviani
São Paulo, 17/05/2015
Profª. Drª. Karen Ambra
Reitora do Centro Universitário Assunção