Conto, com a Reitora
“A noite vai adiantada e o dia está próximo”
Estamos em pleno tempo do advento, celebrado pelos cristãos como um tempo de espera, de esperança, de expectativas. A grande questão que se faz presente hoje é: esperar o quê nesses tempos tão difíceis? A primeira leitura do domingo que abre o Advento nos traz respostas. Ao ver o povo em peregrinação ao templo de Jerusalém, o profeta Isaías anuncia um novo momento na vida das nações, um tempo de busca de orientação. É do que precisamos: orientação.
“Para lá afluirão as nações todas, povos numerosos irão. Pois de Sião sai o ensinamento; de Jerusalém vem a sentença: fundir suas espadas para fazer blocos de arado; fundir as lanças para delas fazer foices. Nenhuma nação pegará em armas contra a outra e nunca mais se treinarão para a guerra. Vinde! Vamos subir à montanha do Senhor, vamos ao Templo do Deus de Jacó. Ele nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos.” (cf. Isaías 2, 1-5).
Ao mesmo tempo em que coloca o desencanto com os governantes de Israel, a corrupção do sistema, a exploração religiosa, as idolatrias, etc., o profeta refere-se a Jerusalém como o centro da esperança do Messias. É da estirpe de David, um rei que procurou estabelecer o equilíbrio em Israel e instaurar a paz, que virá o Messias, capaz de fazer de Israel uma nação forte, próspera e respeitada pela maneira como será governada.
Nós, cristãos, vivemos esse tempo como espera por esse bom governante. A coroa do advento simboliza essa expectativa. Suas quatro velas vão sendo progressivamente acesas ao longo desse tempo como que iluminando o mundo envolto em escuridão, cuja luz verdadeira é o menino Jesus que nos chega na Noite de Natal.
A cor verde, presente nos ramos que as sustentam, simboliza o pinheiro, árvore que não perde as folhas mesmo no inverno. É o simbolismo nórdico da esperança, sinal de persistência diante das atribulações e dificuldades, de imortalidade, de vitória sobre a morte. As três velas de cor roxa da coroa são ainda a ausência desse Messias, a excelência de governante por referência, mas, como acreditamos que ele virá, a vela rosa (Gaudete), acesa no 3º domingo do advento, é a alegria antecipada pelo Natal que se aproxima, é o alívio em meio a essa espera.
Esse tempo de espera não seria o mesmo nosso? Também nós não estamos na expectativa de governantes exemplares? Há ainda espaço para o rosa da alegria? Na verdade, é o modo de ser de Jesus, a sua maneira de reinar, que possibilita a todos nós que essa alegria não seja celebrada em um domingo apenas, mas se espalhe ao longo de todos os dias do novo ano que se avizinha.
Simbolismos à parte, o mesmo Isaías avisa que não basta simplesmente esperar pelo Messias. O profeta nos orienta a “transformar nossas espadas em arado, nossas lanças em foices para a colheita”. E o apóstolo Paulo complementa, em sua carta aos Romanos (13, 11-14): “Vós sabeis em que tempo estamos. Chegou a hora de nos levantarmos do sono, pois a salvação está agora mais perto de nós. A noite vai adiantada e o dia está próximo. Abandonemos as obras das trevas e revistamo-nos das armas de luz.”
Reitor Padre Edelcio Ottaviani
São Paulo, 23/12/2016
Profª. Drª. Karen Ambra
Reitora do Centro Universitário Assunção