Conto, com a Reitora
Pois é o coração do homem que precisa ser pacificado!
O tema que trago para vocês nesta palavra infelizmente nada tem de novo, faz parte do nosso dia a dia, fruto do descaso de nossos governantes e de nossa passividade diante de tantos graves problemas a que estamos fazendo vistas grossas nos últimos tempos.
Com eleições próximas, a violência virou ordem do dia na agenda política, tanto que, há pouco, o Governo Federal interveio no Rio de Janeiro, o Estado que se tornou retrato para o mundo do caos na segurança pública Brasil afora. A taxa de homicídios em nosso país é mais alta do que em países como a Síria, em guerra. Para o cidadão comum, pagador de escorchantes impostos com retorno zero em serviços básicos, sair de casa pela manhã tornou-se uma aventura.
Foi justamente o aumento no índice de violência no Brasil que motivou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) a retomar o tema na Campanha da Fraternidade deste ano. Em 1983, a CF abordou a mesma temática por constatar que no Brasil havia uma carência de mapear a zonas de maior incidência de violência. De lá para cá os números só cresceram, apesar do evidente crescimento da renda per capita brasileira, o que nos obriga a repensar a relação pobreza x criminalidade e, principalmente, a debruçarmos sobre nós mesmos para avaliar o quanto somos os verdadeiros disseminadores dela.
A paz começa em cada um de nós. De nada adianta pensarmos a violência além dos muros de nossas casas, aquela mesma que recheia as estatísticas e nos assombra e nos acua. Ela começa pequena, bem perto de nós, despercebida, porque aparentemente inofensiva. O que nos assusta nas ruas nada mais é do que o resultado de nossas incompreensões, conflitos aparentemente banais, intolerância com o que está em desacordo com o que acreditamos e esperamos...
Com o tema Fraternidade e Superação da Violência, a Igreja faz um convite a resistirmos a toda forma de violência e a consagrarmos todos os esforços possíveis pela causa da paz, a começar por nós mesmos. “...pois, é o coração do homem que precisa ser pacificado para que possa superar a ideia que o outro é um risco a ser eliminado. A superação da violência passa necessariamente pela conversão dos atos do homem que pressupõe uma conversão do seu coração.”
O documento da CNBB ressalta também que, “tendo suas residências guardadas por cercas elétricas, guaritas e vigias, cada vez mais também as pessoas se isolam e sentem nisso uma falsa sensação de segurança. O outro é afastado. Mantêm-se distância não só do inimigo, mas também dos possíveis amigos, como os vizinhos. Eis aí um dos maiores desafios contemporâneos no campo da segurança pública: garantir que as políticas públicas tenham em vista o aumento da solidariedade entre as pessoas, ao invés de enclausurá-las, criando empecilhos ou mesmo impedindo relações interpessoais humanizadas.”
E faz menção à cultura que gera uma política pautada na violência, justamente a que estamos assistindo agora no Rio, e à corrupção, agora escancarada pelas investigações, mas longe ainda de ter um desfecho à altura do mal que causaram ao país, corroborando com a crença de que o dinheiro está em primeiro lugar, colocando em segundo plano a dignidade da vida humana. Mas que peso damos àquele pequeno jeitinho, aspecto central de nossa identidade e do qual tanto nos orgulhamos?
Em coro com a CNBB, convoco todos vocês a assumirem os desafios que a Igreja nos propõe: viver a prática de Jesus no exercício, unindo os pequenos gestos, aqueles mesmos que praticamos sem dar muita atenção aos padrões morais e aos mandamentos de um bom cristão, aos que o Papa Francisco sugere: “a escuta, a saída missionária, o acolhimento, o diálogo, o anúncio da paz e a denúncia da violência na dimensão pessoal e social. A lógica do amor é o único instrumento eficaz diante das ações violentas.”
Vencer essa violência entranhada no seio de nossa sociedade passa pela capacidade de assumirmos o desafio de sermos construtores da paz e gestores da fraternidade. “Superar a violência é tarefa de todo cristão, pois recebemos o mandamento do amor como vocação e missão.”
Desejo-lhes um bom início de ano letivo e uma boa preparação para a Páscoa do Senhor!
Padre Edelcio Ottaviani, Reitor do UNIFAI – Centro Universitário Assunção
São Paulo, 01/03/2018
Profª. Drª. Karen Ambra
Reitora do Centro Universitário Assunção