Conto, com a Reitora
Sobre começos e recomeços
Este é o texto inaugural da seção “Palavra do Reitor” do atual mandato, iniciado no dia 1/11/2020 e com duração de 4 anos. Neste primeiro comunicado, reside dupla condição especial: o fato de ser a primeira palavra de uma reitora que é também leiga, situação inédita em 50 anos de história do Centro Universitário Assunção. Trata-se, portanto, do começo de uma situação singular para a instituição e de um novo desafio pessoal.
Sendo esta uma experiência nova, para mim e para o UNIFAI, e – ao mesmo tempo – o início de uma nova gestão na reitoria, o entusiasmo e a esperança estão presentes. A sensação de fôlego renovado e o desejo de êxito também podem ser percebidos naqueles que fazem parte do Centro Universitário e que, de maneira afetuosa, registraram manifestações frente à nova jornada, que recentemente foi anunciada. A expectativa positiva diante do novo encontra, no apoio do Conselho de Ensino e Pesquisa do UNIFAI (o CEPE), na nomeação feita pelo Grão-Chanceler Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer e na confiança depositada pela Fundasp, as condições ideais para que a instituição siga crescendo.
A trajetória que começa a se delinear, apesar de “novinha em folha”, não se encontra desprovida de experiência, minha – como professora, coordenadora de curso de pós-graduação e (ex) vice-reitora – e da instituição, com a sua tradição e as conquistas já empreendidas. Um direcionamento, apesar das novas perspectivas, vai ser mantido, pelos conhecimentos acumulados e em virtude da organização geral da estrutura administrativa e acadêmica, em que se fazem presentes pessoas competentes e compromissadas e sem as quais uma Instituição de Ensino Superior não pode se consolidar. Estamos, então, diante de um começo de reitoria, com sabor de recomeço, em que se encontram combinadas a tradição acumulada com o desejo de se reinventar.
O convívio, entre o que já foi construído e os novos projetos, será tão mais profícuo quanto for a nossa habilidade em lidar com os desafios: os previstos e, principalmente, os imprevistos. E nisso, além da experiência acumulada, não nos falta a coragem para o enfrentamento, a criatividade para buscar soluções e a sensibilidade para considerar os envolvidos. Foi assim que enfrentamos a necessidade de reinvenção, frente à pandemia e à exigência do isolamento social que culminou na quarentena.
Ficou muito claro para nós que a sala de aula deixou de ser reconhecida em seus limites físicos institucionais, pois passou a se configurar como um espaço simbólico de conhecimento, de trocas e, ainda sim, de contato. Uma vez distantes, encontramos meios para nos aproximar, fortalecer vínculos e estivemos (professores e alunos) ainda mais presentes na vida daqueles que compõem nosso ambiente colaborativo de aprendizagem. Ficou especialmente perceptível que professores, para ensinar melhor, também aprendem, de forma contínua e em consideração às necessidades e possibilidades dos nossos alunos. Estes, por sua vez, apoiaram, confiaram e ensinaram que caminhos didáticos se mostravam mais efetivos. Além disso, se dispuseram a fazer uso de ferramentas tecnológicas pouco ou nada familiares e dividiram com seus colegas e professores descobertas que foram aprimorando as atuações, docente e discente, como também aperfeiçoando o desenvolvimento de atividades durante as aulas síncronas e fora delas.
Nossos alunos nos motivaram, nos inspiraram a seguir em frente e a nos reinventar, pois – ainda que a realidade conspirasse contra a continuidade dos estudos, frente à pandemia e diante do fechamento das instituições de todos os níveis, da Educação Infantil ao Ensino Superior – estava claro que não poderíamos parar, que o trabalho acadêmico e administrativo deveria ser sustentado e que, rumo ao futuro, deveríamos seguir. Não da mesma forma, mas com a mesma vontade. A vontade de continuar foi, e se mantém, além do papel institucional de formar em nível superior.
Queremos transformar e permaneceremos trabalhando para que os nossos projetos acadêmicos sejam projetos de vida daqueles que não apenas querem aprender para atuar profissionalmente, mas desejam iniciar uma nova jornada, trilhar caminhos inéditos, alcançar metas ou, simplesmente, recomeçar. Afinal, como humanos que somos, não estamos determinados a um destino único, principalmente se uma mudança pode ressignificar o presente, fazer surgir metas e motivar superações.
Para quem deseja começar ou recomeçar, caminhos frutíferos podem ser construídos na busca pelo saber. Ainda estamos determinados pelas circunstâncias impostas pela pandemia, contudo teremos que transpor as dificuldades sociais e econômicas impostas por ela e, para isso, cada vez mais será valorizada a busca pelo conhecimento e pelo aprimoramento.
Neste cenário, reafirmamos a nossa missão de oferecer qualidade de ensino e de acolher aqueles que buscam superar obstáculos e não apenas desejam obter um diploma que certifique o fim do Ensino Superior. Mais importante que concluir um curso é o processo estabelecido no decorrer dele que, para além de ajudar no ingresso e manutenção no mercado de trabalho, se reveste, no UNIFAI, de uma proposta humanizada, considerando cada sujeito e a sua história.
Afinal, a procura pelo conhecimento tende a levar ao encontro da verdade e da alegria, de se constituir como sujeito que é importante: para si e para o mundo, não apenas para o mundo do trabalho. A aquisição do conhecimento não deve encontrar fim, mas ser um fim em si mesma, em proporcionar sentido para a caminhada. No documento do Papa Francisco, intitulado Veritatis gaudium, em latim, ou “A alegria da verdade”, em língua portuguesa, fica claro que, em essência, devemos estar abertos para o conhecimento. Os saberes concorrem para a atribuição de significado às nossas experiências e proporcionam a alegria de estarmos despertos e não apenas preparados para o trabalho.
O conhecimento deve, pois, ser concebido como patrimônio da humanidade, ferramenta de transformação e não recurso de manipulação e de domínio. Apesar de necessário ao trabalho, não pode ser esquecido na atuação profissional. Historicamente, o conhecimento foi se tornando mais concentrado em grupos privilegiados, já foi negado às mulheres e é restrito às camadas menos favorecidas da nossa população. Uma mulher como reitora, certamente poderá dar visibilidade a todas as outras mulheres, grupo majoritário no Centro Universitário: no corpo discente, docente e técnico-administrativo. Deverá reiterar que oportunidades devem ser proporcionadas para aqueles não se encontram em igualdade de condições para concorrer a posições de destaque.
O acesso ao conhecimento proporciona o direito a aprender. Não apenas leva alguém a se apropriar de um repertório de informações. O conhecimento ensina a sonhar, a realizar projetos, a conviver, a superar desafios, validar direitos e acima de tudo: leva à aprendizagem que nenhum de nós está determinado pelo destino, mas pelas escolhas feitas. Uma decisão tomada hoje reverberará no futuro. Uma das decisões mais acertadas é, certamente, permanecer aprendendo e, para isso, o ingresso e a permanência no Ensino Superior têm valor inestimável.
Dito isto, cabe o destaque de que o nosso Centro Universitário foi equipado e adequado para proporcionar um ambiente mais seguro, levando em consideração medidas de prevenção ao Coronavírus. Embora estivéssemos preparados para receber as turmas concluintes de graduação do período noturno, ainda neste semestre, após consulta feita aos alunos que compõem tais turmas, respeitaremos o desejo da maioria em manter as aulas remotas. Contudo, seguimos com nosso trabalho acadêmico e administrativo, levando adiante o compromisso educativo no Ensino Superior.
São Paulo, 04/11/2020
Profª. Drª. Karen Ambra
Reitora do Centro Universitário Assunção