Conto, com a Reitora
Dia (de visibilidade) Internacional (pela busca de igualdade) da Mulher
No Dia Internacional da Mulher, costumam ser muitas as mensagens direcionadas ao público feminino, e, geralmente, carregam um conteúdo sobre a celebração de características atribuídas a nós, como força e delicadeza. De um jeito ou de outro, considerando o primeiro ou o segundo adjetivo, sinto menos como elogio e mais como desconforto.
Por um lado, a força, para mim e pensando nas mulheres em geral, remete à ideia da necessidade de investimento de energia em situações diárias que são de luta, a um estado de alerta pela preservação, a uma busca permanente pela equidade, igualdade e à busca pelo respeito.
Por outro lado, a delicadeza talvez seja muito mais uma qualidade presumida e pretendida que se assuma pelas mulheres, do que genuinamente e eminentemente característica feminina. Talvez esperem, sim, que sejamos fortes, mas não exageradamente, para não ameaçar uma sociedade marcada por empreendimentos masculinos, então a delicadeza seria um contraponto. As flores, como as rosas, com as quais muitas mulheres costumam ser presenteadas nesta data, carregam a representação desta delicadeza. Contudo, falemos sobre os espinhos escondidos.
Um dos principais “espinhos” é a desigualdade. Existem, por exemplo, muito mais homens em cargos de liderança e ocupando posições políticas de destaque, do que mulheres, além de diferença salarial, menor para elas, em igual posição assumida por eles. As oportunidades não costumam ser as mesmas, exigindo muito mais esforço feminino, não apenas para se destacar por meio de diplomas e experiência profissional, mas pela pesada rotina imposta, diluída na pressa do dia a dia e em afazeres destinados, sobremaneira e pela “tradição”, às mulheres, o que reforça a condição de desigualdade.
Para a mesma “corrida” os pontos de partida são diferentes. Para ilustrar, numa cena familiar matutina, que ainda é comum, a mulher faz o café, prepara o lanche das crianças, põe a roupa na máquina de lavar e se arruma para trabalhar. Ele toma o café feito por ela, a roupa lavada por ela e beija os filhos que por ela servidos e cuidados. É o primeiro a sair de casa, chegará em tempo e descansado para trabalhar.
De fato, a busca pela independência feminina e pelo desempenho de outros papéis não implicou, necessariamente, na transferência e na divisão de tarefas “tipicamente femininas”, mas a desigualdade vai muito além desta sobrecarga, pois reside num sistema opressor que estimula a inferioridade e subserviência mundo afora, que ameaça à integridade física e psicológica, marcada pelo sexismo, pela objetificação do corpo feminino, pelo estabelecimento de padrões de beleza, de comportamentos e de exigências que levam à insegurança e à insuficiência.
Fica evidente que uma mudança estrutural ainda é necessária, principalmente pelo fato de alguns direitos fundamentais terem sido estendidos às mulheres mais recentemente e outros ainda serem almejados, pela necessidade, não pelo desejo de atendimento.
No Brasil, o direito da mulher ao voto foi conquistado em 1932, apenas a partir de 1962, deixou de ser obrigatória a autorização do marido para a sua esposa trabalhar, abrir conta em banco, ter um estabelecimento ou viajar sozinha. Ter cartão de crédito era exclusivo aos homens e se solteiras quisessem adquirir um, deveriam comparecer ao banco com um homem para assinatura do contrato, algo superado em 1974, com a aprovação da Lei de Igualdade de Oportunidade de Crédito. A previsão legal do feminicídio data de 2015 e o assédio foi tratado como crime a partir de 2018.
O descompasso entre direitos já foi maior, mas ainda assusta o tratamento desigual, a discriminação, o desrespeito e a violência. Assim sendo, hoje é importante destacar a luta pela igualdade de condições entre gêneros, pela superação da opressão e, essencialmente, a busca pela prática da equidade. E, para isso, o orgulho de ser mulher e a sua força, estão expressas na perseverança, na resiliência, na criatividade e na superação de limites.
Parabéns àquelas que resistem, que fazem do seu dia a dia caminho para superação de práticas que subjugam e submetem ainda tantas mulheres (mundo afora) a situações de inferioridade e subserviência, algo que exige renovação constante de forças e da esperança.
Profa. Karen Ambra
São Paulo, 08/03/2023
Profª. Drª. Karen Ambra
Reitora do Centro Universitário Assunção